A paixão pelo trabalho voluntário cresceu com Beatriz: ainda adolescente, ela se engajou em atividades com os moradores da periferia de Cotia (SP) e tirou do papel um projeto de recreação para as crianças da comunidade. Quando, aos 27, seus olhos fitaram pela primeira vez os de Pedro, seu filho, ela percebeu que queria fazer ainda mais. “O nascimento dele me fez refletir sobre como eu estava contribuindo para que o mundo fosse um lugar melhor”, conta.
Em um determinado dia, depois de uma jornada de oito horas como analista de recursos humanos, função que exerce há nove anos, chegou a sua casa e ligou a televisão. Tudo parecia comum: preparar o jantar, dar banho no filho, colocá-lo para dormir, organizar a rotina do dia seguinte e descansar, a não ser pelo fato de que, naquela noite, seus ouvidos estavam atentos a uma reportagem que abriu a edição do telejornal: “falavam sobre desemprego e, ao fim, entrevistaram uma mãe que estava prestes a encarar o despejo com seus três filhos. Quis enxugar as lágrimas dela e, quando não consegui seu contato, me dei conta de que outras tantas pessoas estavam naquela situação, e fui para as ruas escutar suas histórias”.
Nascia, assim, em 2017, o Cruzando Histórias, um projeto que tem por objetivo conectar pessoas a oportunidades de trabalho, valorizando a bagagem que cada uma traz consigo, para muito além do currículo. Nesse mesmo ano, seu propósito ficou ainda mais evidente logo que voltou de uma viagem ao Quênia. Durante os quinze dias em que ficou sozinha naquele país, Beatriz entendeu que uma de suas missões era dar visibilidade e espaço aos que pouco são vistos. “O futuro do trabalho chegou e nós temos que confiar em nós mesmos”, pondera. Beatriz acredita que em cenários de desemprego, as pessoas são tratadas como estatística – mas elas não são apenas isso. São homens e mulheres cheios de histórias e de sonhos. “Quando alguém perde um emprego, não é só a porcentagem da categoria que aumenta. Esvai-se junto uma dose de autoestima, uma série de planos, um punhado de sorrisos. E isso precisa ser recuperado”, conclui.
Em pouco mais de um ano, o Cruzando Histórias já conseguiu um novo emprego para mais de 200 pessoas. No entanto, além da recolocação, o projeto proporciona mais do que isso: promove, por meio de encontros, a escuta, a conversa olho no olho e o abraço apertado em um momento frágil de vida. “Desejo ver, cada vez mais, as pessoas colaborando umas com as outras e valorizando suas relações. Isso fez de mim uma pessoa cheia de fé na vida. Acordo com o único compromisso de ser gente para outra gente”, conclui.
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