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Marisa Santos

Marisa Santos

“Quero trabalhar com desenvolvimento de pessoas em uma empresa que veja as diferenças como algo positivo”
Marisa dos Santos, São Paulo, SP

Filha caçula de quatro irmãos, nasci e ainda moro na Zona Leste, periferia de São Paulo.
Cresci escutando a minha avó contar as histórias da nossa família. Minha bisa trabalhou desde criança na lavoura. Minha avó, mulher negra e pobre, com muito esforço, estudou até a terceira série e começou a trabalhar ainda menina como babá e depois empregada doméstica. Ela se casou aos 15 anos e teve 12 filhos. Minha mãe foi um dos seis sobreviventes.

 

Novamente a história se repetiu: minha mãe, tias e tios, sofreram racismos na infância,
estudaram até a terceira série e foram trabalhar quando crianças. Os meninos eram engraxate e as meninas babá e depois empregada doméstica. Minha família materna sofreu preconceito por anos e, ao ouvir as histórias da minha ancestralidade, eu aprendi muito sobre a minha força. Também acreditei que comigo podia ser diferente. Meus pais sempre disseram que eu tinha que estudar por mim e por eles.


E fiz o meu melhor: me dediquei aos estudos. Fui a melhor aluna que pude ser em uma
escola pública. No ensino médio, meus pais fizeram um esforço e conseguiram me matricular na escola particular do bairro. Anos depois, consegui uma bolsa de estudo de 50% para cursar uma graduação. Eu queria estudar Psicologia, pelo meu desejo de compreender as diferenças, mas o meu salário de operadora de telemarketing da época não era o suficiente. Estudei Gestão de Recursos Humanos.

 

Conquistar o diploma da faculdade e, em seguida uma Pós Graduação em Psicologia
Organizacional, foi como quebrar uma barreira de gerações na minha família. Minhas conquistas são por mim e por essas mulheres que eu tenho muito orgulho. Mas eu quero uma vida diferente: mulheres negras e periféricas serão o que elas quiserem ser!

 

Infelizmente o preconceito ainda existe. Tenho mais de 10 anos de experiência e, mesmo
assim, já senti preconceito em processos seletivos por ser uma mulher periférica e sem “faculdade de primeira linha”. É triste, é injusto, mas é real. Desde agosto de 2019, estou na busca exaustiva por recolocação profissional. Divido minha rotina entre estudos, trabalhos autônomos, trabalho voluntário e a busca por emprego nos sites de vagas e LinkedIn. Minhas reservas financeiras já estão bem comprometidas e meu emocional ainda mais abalado. É difícil sentir que todo a minha dedicação aos estudos não é valorizada.

 

O que me fortalece é que eu sei que não estou sozinha. Em 2018 eu participei de um “Café com a Bia” o projeto que hoje leva o nome de “Escutação”, da Cruzando Histórias. A ONG que me acolheu quando eu precisava de escuta e suporte na carreira, hoje me oferece espaço para retribuir, acolher e ajudar outras tantas pessoas. Sou consultora de carreira voluntária. Ali eu entendi que precisava conhecer histórias para que juntas não sentíssemos mais sozinhas.

 

Minha empatia, comprometimento, transparência, respeito à diversidade e à valorização
humana são tudo o que eu tenho de melhor para oferecer para o meu próximo emprego. Busco uma oportunidade em Recursos Humanos, Recrutamento e Seleção, Treinamento e Consultoria de Carreira. Quero trabalhar no desenvolvimento de pessoas em uma empresa que veja as diferenças como algo positivo.

 

Para terminar a minha história, conto um pouquinho sobre a filosofia que sou apaixonada e adotei para a vida. Ela é chamada ‘Ubuntu’ e tem como essência uma sociedade sustentada pelos pilares do respeito e solidariedade. "Sou o que sou pelo o que nós somos". É nisso que eu acredito!

Em entrevista para Lígia Scalise

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