Dia dos Pais: uma data que não condiz com a realidade
- Carolina Vieira

- 10 de ago.
- 3 min de leitura

Você não é “pãe”. Você está sobrecarregada!
Hoje se comemora o dia dos pais no Brasil. Enquanto, para alguns, essa é apenas mais uma data comemorativa, para muitas crianças — e para a maioria das mães —, ela remete à ausência de apoio e de presença paterna, além do peso de carregar sozinha o cuidado diário.
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022 existiam 11 milhões de mães solo no país. Em 2023, cresceu o número de registros de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento, de acordo com a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). Já em 2024, o IBGE revelou que, entre todos os brasileiros que vivem sozinhos com filhos, 86,4% são mulheres.
Diante desses números, é impossível romantizar frases como: “você é uma guerreira”, “você é mãe e pai (pãe)” ou “seu filho tem sorte de ter uma mãe dessas”. Na verdade, esses comentários escancaram a ausência de compromisso e participação que muitos parceiros deveriam ter — não apenas com as mães, mas principalmente com os filhos que colocaram no mundo.
Além de todo o peso de assumir sozinha o cuidado e a criação dos filhos, muitas dessas mulheres ainda enfrentam o desemprego ou trabalhos extremamente precarizados. Isso significa criar e sustentar uma criança sem o apoio de um parceiro e sem estabilidade financeira, o que amplia o desgaste físico e emocional e torna a jornada ainda mais desigual.
Ninguém tem filho sozinho. Então, por que o peso do cuidado recai, quase sempre, exclusivamente sobre a mãe? Isso também vale para pais que estão presentes fisicamente, mas delegam quase todo o cuidado à mulher. Se a decisão de ter um filho foi de ambos, o afeto, a atenção e as tarefas precisam ser compartilhados. Mães não querem pais que apareçam uma vez por mês para visitar ou apenas para pagar pensão. Elas querem participação efetiva: dividir reuniões escolares, levar e buscar na escola, ajudar no dever de casa, acompanhar consultas médicas e, minimamente, saber em que série o filho estuda.
Não é raro ouvir relatos, e até ver entrevistas, de pais que não sabem o aniversário do próprio filho ou o nome da escola em que ele estuda . Ser pai é muito mais do que dar presentes de aniversário: é se interessar, se envolver e acompanhar o dia a dia de quem você ajudou a trazer ao mundo.
As mães solo merecem, sim, todo o reconhecimento por sustentarem, sozinhas, uma função que deveria ser compartilhada igualmente. Mas a maioria delas trocaria o título de “mãe guerreira” por um parceiro ou ex-parceiro que realmente assumisse seu papel.
Além disso, está na hora da sociedade encarar a realidade e repensar eventos, como”Dia dos Pais” na escola, considerando que a maioria das crianças brasileiras é criada apenas pela mãe. Essas celebrações, além de não refletirem o cotidiano, ignoram o esforço e as renúncias das mulheres, podendo ainda gerar sofrimento e gatilhos nas crianças que não têm essa figura paterna presente. Ademais, não podemos esquecer que os núcleos familiares não se restringem a casais cisgênero e heteronormativos.
Que a gente possa parar de romantizar o dobro ou triplo de trabalho dessas mães e, enfim, lutar por uma divisão de cuidados mais justa e equilibrada.
E você que é mãe solo, se sente sobrecarregada?




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